25/05/2006

Crônica da Gisele Pecchio: A Mala e o Caráter

O melhor do Brasil é o brasileiro. O pior do Brasil é o mau uso do poder. Se o equilíbrio está no meio, engana-se quem abusa do extremo. Engana-se quem usa a propaganda e publicidade para impor uma imagem que não se confirma nos atos. A melhor propaganda é a palavra confirmada nos atos. Palavra não confirmada nos atos produz reação no sentido contrário e justo.

O melhor do Brasil é o brasileiro cujo ato confirma a palavra. Enquanto uma minoria faz mau uso do poder, por inépcia, má fé ou falta de compromisso com a construção do caráter, a maioria da população esbanja exemplos de boa conduta.

Enquanto a minoria escória invade a midia emporcalhando a programação com a sua falta de ética e desinteresse pelo público, faltam espaços na programação para exibir o bem e a verdade. E estes se encontram nas ruas, nas casas, nos escritórios, no privado e também no público. A maioria é honesta.

Dia destes presenciei nas ruas alguns bons exemplos de cidadãos cuja mente é o céu, o lugar mais alto da existência, o lugar que abriga a consciência. Como é bonito enxergar o bem que ainda se pode fazer.

Enquanto um falso publicitário transformou o Congresso Nacional numa delegacia de polícia, ocupando todo o espaço da midia com a palavra abjeta, dois guardas municipais da cidade de Osasco seguiam como anjos uma anciã que aparentava estar perdida na tarde fria e chuvosa, sem agasalho, sem proteção, sem companhia. Discretos, protegeram a mulher e a reconduziram ao lar. Um ato da mais nobre grandeza que dispensa a palavra.

Enquanto falsos políticos e falsos seguidores de Cristo enchiam malas e a cueca com dinheiro — e algum falso publicitário poderia pensar num modelo de mala e de cueca carbonadas, resistentes a provas radiográficas —, um jovem de 26 anos, de nome Roberto, deixou de ganhar dinheiro no pregão para auxiliar o vizinho Manoel, de 76 anos, a resolver um problema numa repartição pública.

Se cada um de nós pudesse dedicar um ato do dia em favor do próximo, nossa vida seria melhor. Destino, acaso e coincidências não há, o que existe é a relação de causa e efeito em tudo o que praticamos. Se a midia reproduzisse o bom exemplo, a boa palavra confirmada nos atos, tanto melhor seria a vida de todos nós.

Porém, enquanto o ser humano não reconhecer que o ponto mais alto que poderá almejar nesta vida é a construção do caráter e o domínio próprio, os atos continuarão não confirmando a palavra.

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